quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Acredite, se quiser


O novo filme de Woody Allen fala de uma batalha vencida, aquela em que a gente tenta abrir os olhos de quem vive de ilusão oferecendo a lógica e a realidade. Não funciona. As pessoas que vivem de ilusão, as crédulas, que acreditam em qualquer coisa, de videntes que lêem o futuro na bacia de água até aos pais-de-santo que trazem seu amor de volta em sete dias querem justamente fugir dessa realidade.
É fato que a vida tem muitas mistérios, que a ciência não dá conta de tudo. Também é certo que tem gente que acredita em absolutamente qualquer bobagem e que muita gente picareta se aproveita da boa vontade e inocência dos outros. Veja o filme, é bem leve e simpático, "você vai conhecer o homem dos seus sonhos" é o nome. Vi e gostei, dá pra rir e conversar depois do cinema.
Durante toda a minha vida cometi esse mesmo erro. Falar demais, contar demais, dizer a verdade que ninguém quer ouvir. A verdade não apenas dói, mas muitas vezes parece muito mais sem graça do que a ilusão. A ilusão está em toda mídia. No peito de silicone da gostosa, na voz dublada da cantora, no texto escrito por um ghost writer.
No fundo, as pessoas estão certas, elas fazem parte de uma simbiose honesta. Um quer enganar, o outro quer ser enganado. Parece perfeito. No filme, tem uma personagem engraçadíssima de uma garota de programa que casa com um coroa (Anthony Hopkins, representando o Woody Allen, ao que tudo indica) em crise de 3a. idade. Ela diz pra ele as coisas que ele paga pra ouvir. E ele acaba se casando com ela. Muitos homens querem isso, mentiras pagas. Uma mulher que diga que ele é o máximo. Ele sabe que não é, mas acha gostoso ouvir. Ela sabe que ele não é, mas ela fala e ganha casacos de pele. É uma espécie de loucura complementar. Quem somos nós pra dizer que não é bom se funciona para os dois?
Tenho me esforçado muito para mudar, porque minha primeira reação ao ver a verdade é desnudá-la. Mas não vale a pena dizer ao mundo que Papai Noel não existe, se todo mundo é tão feliz acreditando nele. Ainda mais agora, que já é Natal.

Bom dia. De verdade.

(por Rosana Hermann)

Mateus Arantes

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